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Jefferson Ribeiro

A VIBRANTE E VIOLENTA TORCIDA UNIFORMIZADA DO EC TAUBATÉ NOS ANOS 40

Atualizado: 6 de abr. de 2020

No final dos anos 30 e início dos anos 40, começaram a surgir as primeiras torcidas uniformizadas no Brasil, especialmente em São Paulo, onde torcedores da elite paulistana se encontravam nos clubes, se organizavam para ir ao estádio, escolhiam determinado lugar da arquibancada para ficar e torciam com entusiasmo, com gritos de guerras e instrumentos. A primeira torcida uniformizada do Brasil, foi a TUSP (Torcida Uniformizada do São Paulo), do São Paulo Futebol Clube, que foi fundada na Mooca no ano de 1939, posteriormente surgiram outras torcidas uniformizadas, como a Charanga Rubro Negra, do Clube de Regatas do Flamengo.


Em Taubaté não foi diferente, o EC Taubaté também tinha sua torcida uniformizada. Não temos informação sobre a sua data de fundação, acredito que seja em algum momento entre 1941 e 1942, o que se tornaria uma das primeiras torcidas uniformizadas do Brasil e também não temos informação sobre o nome (até o momento). Mas, a torcida uniformizada do Alvi Azul era composta por jovens Taubateanos, que improvisavam gritos de guerra, soltavam morteiros, tocavam buzinas, fazendo um barulho ensurdecedor, uma das torcidas mais vibrantes, que não ficava a dever em nada para as principais uniformizadas da época.


OS MEMBROS DA UNIFORMIZADA


A uniformizada do EC Taubaté no ano de 1942 era liderada por duas pessoas: o dinâmico José Leonildes Monteiro, vulgo Dionísio e José Abdo Rechdon. Os membros da uniformizada eram os seguintes:

Joaquim de Morais Filho, Ângelo Parodi, Joaquim Cunha Canto, Paulo Tanil, Antonio Camillher Horencono, Benedito Fernandez, José Valente da Silva, Jorge Alan, Armando Antico,Elias Rechdon, Nelson Rechdon, José Alexandre Dias, Jaime Barbosa Lima,Osvaldo Barbosa Lima, Emílio Abifadel, Renato Barbosa Lima, Antenor Cursino, Ruy Jackson Pinto, Joaquim Florencono, Sebastião Rodolfo, José Marcondes, Jacomo Di Guidi, Romeu Simi, Pedro Wornes, Antonio Marconi, Domingos Boton, Gumercindo de Moura, Benedito (Nhô Padre), Jurandir Righi, Vital Oliveira Patrício, Romildo Arruda, Paulino Marcondes, Luiz Marcondes Vieira, José Affonseca, Eurico Santos, Eugênio Moreira, Alceste Benini, João dos Santos, Alvaro Camillher, Antonio Moreira, José Moreira, Gumercindo Chofer, Dionizio Chofer, José Leite, Osvaldo Barbosa Guisard, Alvaro de Moura, Reynaldo Piccina, Lauro Fernandez, Carlos Marcondes, Heitor Ortez Camargo, Meirimar Barbosa, Oscar Marcondes, Nicolau Sibe, Antonio Jamil, Augusto Arid, Agenor Seira, Luiz Dias Cardoso, Altivo Simoneti, Agiz Berbare, José Carlos Marcondes, Zolmo Barbosa Barreto, Manoel Fazenda, Wilson J. Abirochede, João D. Giffoni. Entre outros.


MORTEIROS, BUMBOS, LATAS, APITOS E NINGUÉM DORME


Em 1942 o EC Taubaté foi campeão Paulista do Interior e durante toda a campanha teve o apoio irrestrito de sua uniformizada, que esteve presente em todos os jogos, inclusive nos jogos fora de Taubaté, até nos mais longínquos, como foi o caso da semi final em Rio Claro e do primeiro jogo da final em Bauru, viagens longas e complicadas na época.


Complicada também era a situação do Alvi Azul após o primeiro jogo da final, no qual levou 4x0 do Luzitânia FC na cidade de Bauru. Para ser campeão, o Alvi Azul teria que fazer no mínimo os mesmos 4 gols, uma missão tanto quanto difícil.


Afim de ajudar não só durante os 90 minutos, a uniformizada do Alvi Azul ficou da meia noite de sábado, 7 de novembro, até a manhã do dia 8 de novembro (dia da partida) em frente o Hotel da equipe do Luzitânia, que hoje em dia é o Ribeiro Pneus, em frente a rodoviária velha, fazendo um verdadeiro carnaval, impedindo o sono dos jogadores de Bauru.


O barulho foi imenso noite a dentro e, para isso, foram usados instrumentos de escola de samba, apitos, latas e muitos morteiros. Na sequência, o relato do jogador Ditinho do Luzitania, dias após terem tomado a remontada e ficado com vice campeonato, sobre a noite barulhenta na véspera do jogo:

"Não fomos licitamente vencidos. A rebeldia e a falta de cavalheirismo do povo Taubateano, pois da meia noite de sábado a manhã de domingo, grande massa de torcedores exaltados, se postou diante do nosso hotel, a fazer tremendo barulho com latas, apitos e tudo que pudesse impedir nosso repouso".


PANCADARIA EM GUARATINGUETÁ


A Associação Esportiva de Guaratinguetá, durante décadas foi o maior rival do EC Taubaté, proporcionando jogos muito pegados e que, muitas das vezes, descambavam para violência. Nesse cenário as equipes se enfrentaram pelo Campeonato Paulista do Interior de 1943 em jogos mata mata, o resultado dos jogos foram os seguintes:


Data - 05/09

EC Taubaté 7x1 AE Guaratinguetá

Local - Campo do Bosque


Data - 12/09

AE Guaratinguetá 1x1 EC Taubaté

Local - Guaratinguetá


Com a grande vantagem adquirida no primeiro jogo, um número enorme de Taubateanos foi de trem até a cidade de Guaratinguetá para a segunda partida. Dentre esses torcedores estava a uniformizada do Alvi Azul, que ao chegar em Guaratinguetá, foi atacada por torcedores locais, numa confusão generalizada com troca de socos e chutes. Já no estádio durante a partida, a coisa foi muito pior, o árbitro Carlos Rustichelli, teve de parar a partida 6 vezes, tamanha era a confusão nas arquibancadas. Em uma dessas paralisações, os times tiveram de correr para o vestiário, pois as torcidas usaram o gramado literalmente como batalha campal, que chegou a envolver mais de 500 pessoas, onde até tiros foram dados. O resultado disso foi de muitos torcedores feridos,15 com certa gravidade e, a princípio, 1 torcedor da Esportiva teria morrido, mas foi desmentido posteriormente.


Não há notícias de que se alguém foi preso. José Leonildes Monteiro, um dos líderes da uniformizada do Alvi Azul, foi acusado pelos locais de começar os incidentes que tomaram proporções enormes.


ESPANCAMENTO NO CAMPO DO BOSQUE


Em 1944 o EC Taubaté disputava o Campeonato Paulista do Interior e nas oitavas de final enfrentou o São Martinho FC, da cidade de Tatuí. Foram duas partidas repletas de confusão, principalmente o jogo de volta no Campo do Bosque.


Antes de enfrentar o São Martinho o Alvi Azul passou por outros dois adversários. Confira os jogos:


Jogo de Ida

Data - ??

Taubaté 7x0 Cruzeiro FC

Local - Campo do Bosque


Jogo de volta

Data -??

Cruzeiro FC 3x1 Taubaté

Local - Cruzeiro


Jogo de Ida

Data - ??

São Caetano 0x4 Taubaté

Local - São Caetano do Sul


Jogo de Volta

Data -??

Taubaté 5x3 São Caetano

Local - Campo do Bosque


Após passar por esses dois adversários, o EC Taubaté enfrentou o São Martinho, perdendo o primeiro jogo realizado na cidade de Tatuí, por 3x2. Durante essa partida, o conhecido zagueiro Bento do São Martinho, com passagens pelo São Paulo Futebol Clube, machucou com certa gravidade um jogador do Taubaté durante a partida (não se tem o tipo de lesão sofrida, nem o nome do jogador machucado, até o momento).


Para a partida de volta, a torcida Alvi Azul compareceu em bom número no Campo do Bosque, certo de que o placar adverso no primeiro jogo seria revertido. Mesmo antes da bola rolar, já se percebia um clima hostil por parte dos Taubateanos com o zagueiro Bento, pelo ocorrido na primeira partida.


Durante a partida o zagueiro Bento e outros jogadores do São Martinho bateram boca com a torcida Alvi Azul algumas vezes, o que fez o clima hostil somente aumentar e, para piorar, a partida não foi como todos esperavam. O Alvi Azul acabou perdendo pelo placar de 2x3 e acabou eliminado do Campeonato Paulista do Interior.


Após o apito final os jogadores do São Martinho comemoravam muito a classificação para fase seguinte do campeonato. Então, liderados por José Leonildes Monteiro o Dionísio e membros da uniformizada, a torcida Taubateana invadiu o campo em massa e, tamanha era a revolta dos torcedores, que espancaram os jogadores adversários, principalmente o zagueiro Bento.


A polícia teve um enorme trabalho em conter os torcedores. Após o ocorrido os jogadores do São Martinhos receberam os devidos cuidados, sendo alguns hospitalizados em Caçapava, entre eles o zagueiro Bento.


O jornal, Correio Paulistano, assim ilustrou o ocorrido: "É simplesmente inacreditável que em uma cidade que se preza de civilidade como Taubaté, se verifiquem cenas de selvageria, de barbárie como as de domingo, cenas degradantes de assanhado banditismo, digna do mais baixo far-west".


JOSÉ LEONILDES MONTEIRO o popular DIONÍSIO


O escritor e jornalista Umberto Passarelli, se refere da seguinte maneira, sobre o líder da torcida uniformizada do EC Taubaté: "Na década de 30 e 40 salientou-se em Taubaté o vulto de José Leonildes Monteiro, o popular Dionísio, como era conhecido.

Motorista de praça, homem de poucas letras. Vulto atlético, corado e ágil, olhos vivos penetrantes, andar ligeiro, um sorriso, ou um aceno para todos.

Dionísio era um homem prestativo, generoso e emotivo, que a todos servia e a todos ajudava. Brigava pelo Esporte Clube Taubaté, não admitia que algum clube fosse superior ao Alvi Azul. Falava e argumentava a seu modo, gesticulava, gritava, se preciso fosse, mas o Esporte Clube Taubaté era e tinha que ser o tal. Nunca se viu tanta paixão.

Sua morte, ocorrida em 1968, entristeceu Taubaté, não era apenas mais um homem que morria, morria um homem bom. A bandeira do Alvi Azul foi colocada sobre a sua urna funerária e o acompanhou até sua derradeira morada, como homenagem do Esporte Clube Taubaté, agremiação que ele muito amou e a que tanto soube servir".


Alguns outros ocorridos, envolvendo a uniformizada do Alvi Azul e violência, ocorreram nos anos 40. Só iremos sitá-los, por não haver informação necessária para descrever todos: Briga com jogadores Paraguaios do Libertad e arbitragem, no amistoso em 1946, confusão em jogos no Campeonato Paulista do Interior de 1946,1947,1948 tanto no Campo do Bosque, como em jogos fora.


Panorama da torcida Alvi Azul no Campo do Bosque, em um amistoso com São Paulo FC nos anos 40.



José Leonildes Monteiro, o Dionísio, foto de meados dos anos 50.


Fonte:

Acervo pessoal, Horton Cunha.

Acervo pessoal, Frederico Carvalho.

Livro - Contribuição a História de Taubaté de Umberto Passarelli - Página nº 363.

Revista, Vida Esportiva Paulita - edição nº 34 - Dezembro de 1942.

A Folha do Povo - Quinta Feira, 12 de Novembro de 1942.

Jornal dos Sports RJ - Sexta Feira, 15 de Setembro de 1944.

Correio Paulistano SP - Quarta Feira, 11 de Outubro de 1944.

Blog - História do Futebol.

Blog - Guia dos Curiosos.

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