Uma das pessoas mais importantes na história do Esporte Clube Taubaté, principalmente no período de 1916 a 1924. Taubateano e professor, foi escolhido pelo presidente do clube, Gastão da Câmara Leal, para ser o representante do Alvi Azul diante da APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), por ser estudado e pela facilidade que tinha com as palavras.
Em 1919, foi criado o conselho do interior pela APEA, formado pelos representantes dos clubes, que iriam disputar o primeiro Campeonato Paulista do Interior. Ennio era o representante do Alvi Azul, o único representante genuinamente do interior, os demais eram todos pertencentes a algum clube da capital sendo que alguns nem sequer conheciam as cidades cujo clubes representavam. Todas as quartas-feiras Ennio embarcava de trem rumo a São Paulo, para participar das reuniões do conselho do interior, que eram realizadas na sede da APEA, no Largo do São Francisco.
Aos poucos Ennio foi se familiarizando, fazendo amizades e logo suas ideias e propostas eram muito bem-vindas e aceitas pelo mandatário da APEA, Enrico de Matino. Uma dessas propostas, foi a fórmula de disputa da primeira edição do Campeonato Paulista do Interior, em 1919, fórmula essa, que durou vários anos.
Nos anos 20, Ennio continuou sendo o representante do Alvi Azul, ao mesmo tempo era o redator geral do jornal O Norte e o representante geral da colônia Portuguesa em Taubaté.
Trabalhou para Alvi Azul até o ano de 1924, onde deixou seu nome marcado como quem sempre colocava o EC Taubaté em primeiro lugar, seja como representante do clube, seja não medindo esforços para ajudar a diretoria do clube, um verdadeiro abnegado.
Recebeu o convite para ser o representante geral da APEA, tamanha era sua desenvoltura e elegância com as palavras. Exerceu a função até o ano de 1930, onde deixou o cargo para ser o presidente da Portuguesa de Desportos, de 27/02/30 até 27/11/30, mas ficou mais de uma década na diretoria do clube lusitano, ocupou o cargo de representante geral, diretor esportivo e presidente do conselho deliberativo, até chegar ao cargo de representante geral da Confederação Brasileira de Desportos, cargo que estava exercendo no ano de 1942.
Durante todo esse período, Ennio nunca deixou o Alvi Azul de lado, sempre que podia voltava para Taubaté e comparecia aos jogos, sempre torcendo com muito entusiasmo.
Após a conquista do Tricampeonato do Interior, a revista Vida Esportiva Paulista, sabendo do profundo conhecimento e paixão de Ennio pelo Alvi Azul, o pediu para retratar o tricampeonato em apenas duas palavras. Segue na íntegra, o que o senhor Ennio Juvenal Alves escreveu para revista:
"Pede-me a Vida Esportiva Paulista para escrever DUAS PALAVRAS sobre a trajetória do EC Taubaté. DUAS PALAVRAS?! Realmente é muito pouco, porém, como resposta e para falar da história desse glorioso clube, eu poderia responder simplesmente: Tricampeão!
São só DUAS PALAVRAS! São duas palavras, mas que muito dizem, pois consignam a verdade inconteste do quem tem sido realmente no cenário esportivo do Estado, o valoroso clube da terra de Jacques Felix! Um conjunto de esportistas abnegados!
Fundado em 1914, encontrou em sua meninice, clubes como o Comercial FC, de Ribeirão Preto, a Associação Esportiva São Joanense, de São João da Boa Vista, o Paulista FC de Jundiaí, a AE Guaratinguetá, o Rio Branco, de Vila Americana, a AA Caçapavense, o Velo Clube Rio Clarense e o Rio Claro de Rio Claro, o EC Savoia, de Votorantim, o Guarani FC e a Ponte Preta, de Campinas, conjuntos dos mais adestrados e fortes de então. Não se atemorizou e com eles foi a disputa do primeiro campeonato oficial da APEA, em 1919. O título de Campeão do Interior, pela primeira vez disputado, foi o justo prêmio de seus esforços. Era o primeiro de sua vitoriosa carreira, que se repetiu em 1926 e se confirmou agora, em 1942.
Mas, relatando seus feitos esportivos, não devemos esquecer que, além de clubes do Interior, o EC Taubaté, disputou jogos contra times da capital de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Geras, foram seus adversários: o Mackenzie, o Minas Geraes, a AA Palmeiras, o São Cristóvão AC, o Palestra Itália, a Portuguesa, o Corinthians Paulista, a AA São Bento, o Itajuba, o CA Paulistano e outros mais. Mas DUAS PALAVRAS, dizendo muito, não dizem tudo! Para dizer realmente alguma coisa mais, eu precisaria de no mínimo duas mil!
Para falar da história do EC Taubaté, preciso é que relembremos os seus heróis, Gastão Vaz Lobo da Câmara Leal, o seu primeiro presidente, que, como prefeito municipal da cidade, tudo fez para dotar o clube de uma das melhores praças de esportes, então existentes no interior de São Paulo. Uma bela obra de urbanismo, ali realizou, dando plena colaboração ao projeto do saudoso engenheiro, Dr. Huascar Pereira.
Dr. João Rachou a mais completa figura desportista que eu conheço, a ele sua competência e dedicação, deve o EC Taubaté, as brilhantes vitórias da sua carreira esportiva. Muitas e muitas vezes, os seus conselhos e opiniões orientavam, ao mesmo tempo, o conjunto esportivo e a ação social. As campanhas mais aguerridas, que defendemos na APEA em prol do levantamento moral do Campeonato do Interior, eram por si orientadas. Um incomparável benemérito!
Antonio Valente da Silva, nem falava nada às vezes, quando as coisas não ocorriam bem no jogo, não dava nem boa noite, ao entrar na sede. Porém, para o EC Taubaté, dava tudo!
Dr. Cesar Costa, o prefeito municipal da cidade, que como Dr. Gastão, tudo fez pelo progresso e enriquecimento do patrimônio do clube, ao qual prestou decidida colaboração como diretor que foi muitos anos.
Cornélio Aguiar, o secretario dinâmico, cujas crônicas esportivas naquele tempo publicadas no jornal O Norte, mereciam a atenção de todos os jornalistas de São Paulo.
Dr. Silva Barros, outro elemento dedicado que muito auxiliou a organização do clube.
Ricardo Simi, o ardoroso torcedor do Taubaté, cujo os filhos Luiz, Romeu e Renato são seus denodados campeões. Quanta alegria e quanta tristeza, nos recorda a figura simpática de Ricardo Simi, o grande amigo do EC Taubaté.
Elias Berbare, o compadre Elias, outro saudoso companheiro que os Taubateanos não podem esquecer.
Irito Nogueira Barbosa, Enéas Natividade, Luiz Pereira da Silva, Renato Granadeiro Guimarães, Luiz Vieira Marcondes, Antonio Camillher Filho, Jacinto Lopes, Dr. Francisco de Mattos, Ildefonso de Almeida, Antonio de Oliveira Bicudo, Sergio Areão, Antonio Faria Vieira, Hugo Cintra, João Ximenes, Paulino Soares de Moura e quantos outros todos dedicados servidores, que no início, muito contribuíram para que o clube fosse o que realmente é hoje.
Imitando os seus fundadores, outros esportistas como: Antonio Castilho Marcondes, Alvaro de Mattos, Paul Guisard, Antonio Ribas, Castro Nápoles, Arthur Audra, José Geraldo de Oliveira Costa, Trajano Sampaio, José Luiz Soares, Licurgo Querido, Vitor Ardito, Juares Guisard, Evandro de Campos, Pedro Saturnino, José Rachedan, J. Moreira, J. Abrahão, Dionísio, Chiquito, vêm agora dando o melhor de seus esforços para continuação da brilhante trajetória do EC Taubaté, que, assim, continua como um belo exemplo de desportividade,de trabalho e de patriotismo.
Sim, porque não se julgue que no EC Taubaté só se cultiva a prática do futebol. Não, ali se cultuam todos os princípios todos sublimes da verdadeira finalidade esportiva. Um dos exemplos é o do finado Tatu. O EC Taubaté quando ele já não podia mais dedicar-se a carreira que o glorificou, o recebeu de braços abertos e o acalentou até o último suspiro.
Relatar esses fatos é esclarecer a carreira esportiva do Campeão Paulista do Interior de 1942, só de 1942?! Não, também de 1926 e 1919.
E, depois de tanta divagação, eu concluo com a primeira opinião. Para falarmos da história do EC Taubaté, convenhamos que basta escrever DUAS PALAVRAS: TRICAMPEÃO!"
Fonte:
Revista Vida Esportiva Paulista n 34 - Dezembro de 1942
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